sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca, Charneca Em Flor

3 comentários:

  1. Neste poema, a minha atenção deteve-se nos diversos problemas sentidos pela poetiza como incompreensão, a discriminação, a dor e o sofrimento que reflectem situações do mundo actual. Neste poema de carácter autobiográfico (repetição anafórica da expressão «Eu sou…») denota-se a insatisfação da Florbela através do uso abundante de reticências e das ideias contraditórias. Apesar de poder expressar incondicionalmente o que sente, o poeta também é um ser que sofre «Sou a que chora sem saber porquê».

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  2. Olá.
    Concordo contigo quando dizes que a poetisa está triste e se sente discriminada, incompreendida, etc. Contudo, gostaria de sugerir um outro adjectivo: perdida. Não sabe o que faz no mundo e é como que ignorada por todos ("Sou aquela que passa e ninguém vê...").
    Na última frase do poema, acho que a poetisa dá a entender que ainda tem esperança de ser amada. Portanto, penso que se sente sozinha, não porque todos a ignoram, mas sim porque não existe pelo menos uma pessoa que a ama de verdade. Apenas quer uma pessoa que a ame. E essa pessoa veio ao mundo para a ver,
    e que nunca na vida a encontrou.
    Isto é o meu comentário a este poema.

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  3. Concordo com os vossos pareceres, caros colegas.
    António, identifiquei-me bastante com a tua opinião relativamente à última frase do poema. Penso que a escritora está mal porque não se sente valorizada por alguém, e não só por se sentir "ignorada" por todos... Porque mais importante que ter uma determinada quantidade de amigos, é ter amigos de qualidade.
    Florbela, enquanto poetisa, tem uma escrita bastante sofrida e pessimista, e estes adjectivos estão bem presentes nas suas obras. É uma qualidade que aprecio em alguns casos, apesar do facto de achar exagerado em certos poemas...
    O sujeito poético lamenta-se do seu sofrimento, e sente-se "fora" do seu mundo ("Sou aquela que passa e ninguém vê...").

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