E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira, Matura Idade, 1972
Os temas dominantes nesta composição poética são a intemporalidade e a incerteza. A subjectividade destas duas palavras reflecte o sentimento do poeta em não conseguir controlar o tempo e as atitudes. Identifico-me com este poema porque também eu sinto, por vezes, dificuldades em “controlar o tempo”, pois este é vivido à velocidade do meu estado de espírito «E por vezes as noites duram meses/ E por vezes os meses oceanos».
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